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Thanks God, I’m Brazilian!

 
Ontem vi um filme. “Sicko: $O$ saúde” de Michael Moore. É um documentário que critica o sistema de saúde americano.
Vai aí uma pequena sinopse retirada de http://www.adorocinema.com/filmes/sos-saude/: “Um painel do deficiente sistema de saúde americano. A partir do perfil de cidadãos comuns, somos levados a entender como milhões de vidas são destruídas por um sistema que, no fim das contas, só beneficia a poucos endinheirados. Ali vale a lógica de que, se você quer permanecer saudável nos Estados Unidos, é bom não ficar doente. E, depois de examinar como o país chegou a esse estado, o filme visita uma série de países com sistema de saúde público e eficiente, como Cuba, Canadá, França e Inglaterra.”
O filme vai mostrando situações absurdas como: um homem perdeu parte de dois dedos, anelar e médio, em uma serra de cortar madeira. Chegando ao hospital, antes de fazer a cirurgia de reimplante dos dedos ele foi informado que a cirurgia para colocar o dedo anelar seria 16 mil dólares e a do dedo médio seria 60 mil dólares! Ele não tinha dinheiro suficiente e optou por fazer apenas a cirurgia do anelar. E vive até hoje sem parte do dedo médio. Dá vontade até de rir de tão absurdo!!!
Outra situação foi a de uma mulher que passou mal em casa. Ela era assegurada por um plano de saúde. Uma ambulância a buscou em casa e ela teve tratamento no hospital. Dias depois, chegou em sua casa uma fatura bem alta, referente ao transporte de ambulância e dizia o motivo pelo qual a seguradora não cobriria as despesas: porque o serviço de transporte não foi pré-aprovado! Kkk! Lógico, ela vai liga pro plano, pra eles aprovarem e morre em casa!! Simplesmente absurdo.
Só mais uma situação, a de uma mãe com uma criança de 1 ano e meio. Ela era segurada pela maior empresa de planos de saúde do país. Uma certa noite, sua filha teve uma febre de 40 graus. Ela então ligou para a ambulância que a levou para o hospital mais próximo. Chegando lá, o hospital ligou para o plano de saúde que informou que não pagaria pelos exames e medicamentos necessários para o tratamento da criança. Ela teria que levá-la para um hospital da rede do plano de saúde. E de carro! A mãe desesperada, continuou pedindo que tratassem dela. Eles negaram e a expulsaram do hospital, dizendo que ela era uma “ameaça”. A criança piorou, teve uma convulsão, e devido à demora para chegar ao outro hospital, teve uma parada cardíaca e veio a falecer. Lembrando que essa mãe pagava o plano de saúde, e é bem caro! É, pessoas morrem antes que a burocracia capitalista se resolva.
Nos EUA, não existe sistema público de saúde. As pessoas que querem acesso à saúde, precisam pagar pelos planos. Esses, por sua vez, são completamente capitalistas e não pensam na real necessidade de saúde da população. Os funcionários dos lucrativos planos de saúde são orientados a buscar brechas para lesar o associado, a ponto de uma empresa ter um bônus oficial (em dinheiro!) para o examinador que negar mais solicitações de assistência à saúde do segurado.
Eles inclusive não aceitam pessoas que queiram fazer o plano, se esta pessoa tiver qualquer doença preexistente. Chegam a recusar até se a pessoa é gorda demais ou magra demais! E, se você tinha uma doença que ainda não tinha sido diagnosticada, quando você precisar do plano, eles vão dizer que não cobrirão as despesas simplesmente porque você já tinha uma doença. E aí o americano se vê endividado, por ter tido o azar de ficar doente.
Mas continua patriota, nacionalista... Dizendo que mora no melhor lugar do mundo! Que potencia mundial nacionalista é essa que não pode utilizar parte de seu dinheiro para cuidar de sua própria população? E os pobres? Como fazem pra ter acesso à saúde? Não fazem. Morrem. Simplesmente são expulsos dos hospitais, como cachorros de rua.
E sabem por que os EUA não oferecem saúde a todos? Porque significaria socializar a saúde, e tudo que é socialista é ruim, e equipara-se a Fidel Castro, chamado pelos americanos de “Lúcifer”. Pelo menos a nação de Fidel tem acesso à saúde de qualidade e gratuita.
O filme vai mostrando diversas situações e vai contrastando com o sistemas de saúde eficiente de outros países. Onde o que se paga pela saúde são apenas os impostos. E a saúde realmente funciona. Você sabia que na França, tem um serviço chamado “médico domiciliar”? Você liga para a emergência, e ao invés da ambulância te buscar, o médico vai te consultar em casa, a qualquer hora, em meia hora, que nem pedir pizza. Isso no caso de emergências de pequeno porte, que não necessitam de hospitalização. Isso com certeza desatola as emergências dos hospitais.
Outro serviço de lá é, quando você tem um bebê você tem direito a chamar uma pessoa para te ajudar com o bebê, ensinar você a colocá-lo pra dormir, etc. Todos os dias. Tem também uma empregada do governo para auxiliar pais com bebês pequenos. Elas lavam a roupa, podem deixar uma janta pronta, arrumar a casa, além de cuidar do bebê enquanto os pais trabalham. Duas vezes por semana, quatro horas por dia. Tudo pago pelo governo. Imaginam só! Uma empregada doméstica de graça no momento que você mais precisa!
Enfim, e em contraste com tudo isso, eu pensava o tempo todo no meu Brasil, lindo país... Que orgulho me bateu de viver aqui! Além de bonito, tem gente boa, simpática, receptiva, não é assim que todos falam?
Mas também me orgulhei de saber que tenho um sistema público de saúde, gratuito. E, por mais que o SUS ainda seja um sistema em processo de implantação que ainda está deficiente em diversos aspectos, tem tudo pra dar certo e, o mais importante, já existe. Esse sistema inclusive é copiado por diversos países do mundo, e elogiado em todos os lugares por dizer que “Saúde é direito de todos e dever do Estado” e pela sua política, que, se funcionar a todo vapor, fará do Brasil o país com melhor sistema de saúde do mundo.
            É muito fácil para nós, ver brasileiros criticando o nosso sistema de saúde, mas não sabem como era antes de tê-lo e também não sabem como é em outros países, como o grandioso EUA por exemplo.
Pra quem não sabe porque não viveu essa época, ou pra quem não lembra, a saúde, antes do SUS, ou seja, antes de 1990, não era direito de todos. Só quem tinha acesso à saúde no país eram os trabalhadores, existiam hospitais específicos para cada categoria, como se fosse um plano de saúde. Era a época dos INAMPS, perguntem pros seus pais que eles vão te dizer como era. São os até hoje existentes: hospital da PM, hospital dos servidores, hospital da aeronáutica e por aí vai... Existiam vários, pras diversas categorias.
E se você perdesse o emprego? Teria que ter condições de pagar pela saúde particular. Ou seja, somente ricos e certos trabalhadores tinham acesso à saúde. Os pobres não tinham esse acesso. Já pensou? Imagina passar mal e não ter nem o Hospital Getúlio Vargas pra ir... Melhor precário do que nada.
Entretanto, precisamos lembrar que nosso país é um país ainda em desenvolvimento, que talvez também chegaremos um dia a ser como a França e ter médico em casa em meia hora, mas isso leva um tempo. Precisamos também lembrar que o SUS foi criado em 1990, e 20 anos para uma política de saúde pública que prevê atendimento integral, com direito a todos, para um país com território gigante como o nosso e com 183 milhões de habitantes é uma tarefa bastante difícil.( Contra 65 milhões de habitantes na França, acho que lá, implantar saúde para todos é um pouco mais simples).
Tá, não vamos tentar maquiar a situação. Pessoas ainda morrem nas filas de espera dos hospitais. Também não vamos absolver os péssimos políticos que temos, que roubam nosso dinheiro e também os péssimos administradores hospitalares, que só pensam em si, e conseguem dormir tranqüilos sabendo que existem pessoas morrendo sem assistência médica por causa deles.
Lembrem-se também que, se você puder optar por pagar um plano de saúde aqui no Brasil, pelo menos ele funciona e cobre suas despesas, apesar de também ser burocrático muitas vezes.
Resta a nós torcer pra que o SUS dê certo, pra que nossos netos tenham acesso a saúde de ótima qualidade. E cobrar de nossas autoridades isso. Torcer pra que toda corrupção deixe de existir. E, além de torcer e cobrar das autoridades, orar pra que isso aconteça.
E você, que é profissional de saúde como eu, pode fazer algo além disso.. Dê o seu melhor no dia a dia e não se esqueça de garantir todos os direitos aos pacientes, pensando antes neles do que em você mesmo,  ou no dinheiro, como o  juramento de profissão você provavelmente fez (ou fará, como eu). Não se esqueça também de lutar e defender com todas as forças esse sistema que um dia trará tanto orgulho a cada brasileiro. Eu já vou me orgulhando desde já...
Só me resta dizer que, apesar de tudo: Thanks God, I’m Brazilian!
(desculpem por me empolgar e escrever d+, mas precisava expressar tudo isso, espero que tenham gostado e refletido.)
Rachel Soares

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